Posts de críticos portugueses com rastilho proposto por Rui Pedro Tendinha.

 

Estamos a viver dias pouco felizes nas bilheteiras para os filmes portugueses que apostam no grande público? Acham que isso está a acontecer devido à falta de qualidade dos filmes? Será que Linhas de Sangue não resultou porque afinal não é filme de “grande público”? Ou será que o marketing tem mais olhos do que barriga?

Paulo Portugal- Insider (blog)

Pois. O que acho é que não existem fórmulas milagrosas. Ficou provado com o deplorável Linhas de Sangue. Penso que não respeitou o público. Grande ou pequeno. Tentativa de filme espertalhão. Tal como o marketing. Pensar ter sucesso por aí parece-me um tiro no pé. Até porque quando olhamos para o lado percebemos que coisas bem melhores e simples funcionam pela simplicidade. Ideias boas (simples?) precisam-se…

Hugo Gomes- C7nema

Sempre existiu nos últimos anos um grande fosso entre o cinema português e o grande público, primeiro foi porque existe uma ideia estabelecida e preconceituosa em relação ao nosso cinema, segundo porque não temos indústria, temos réstias ou rascunhos, uns funcionam outros nem por isso, e depois algo que identifiquei com o Linhas de Sangue é a associação de certos elementos com o Cinema de Hollywood, o que no cinema de outros soa como indigestos para o grande público. Mas se tivermos que esmiuçar sobre o “fenómeno” Linhas de Sangue há muito por onde ir.

Inês Lourenço-  Diário de Notícias/DN

Em geral, o grande público português não se identifica com o cinema nacional, a não ser que o cartaz do filme tenha cores vivas (sublinho, estamos a falar do grande público). E esta noção simplória tem somente que ver com as evidências dos últimos anos: o revivalismo de O Pátio das Cantigas e afins teve o efeito que teve em boa parte porque as pessoas estão mais voltadas para estas promessas de filmes que se parecem com a sua telenovela. A velha máxima de que se vai ao cinema para “desanuviar a cabeça” encaixa plenamente neste tipo de cartazes, porque muitas vezes as pessoas não querem ter mais do que essa informação sobre os filmes, ficando-se só pelas luzinhas mediáticas. Agora, o que aconteceu com o mais recente Linhas de Sangue – que acaba por corroborar esta teoria básica das cores dos cartazes – é o reflexo de um equívoco. Para fazer bom cinema de “género” em português é preciso ter uma indústria e uma estrutura criativa. Nem uma nem outra existem, e o grande público é suficientemente perspicaz para perceber isso.

Hugo Gomes- C7nema

Na questão do Cinema de género apontava mais na estrutura criativa, em tempos de saturação as nossas propostas nacionais parecem tratar indevidamente o espectador português. Por vezes fico com a sensação que tratam o espectador como se este não visse filmes. E para fazer “bons” exemplares é preciso conhecer os códigos, o historial e o simbolismo desse cinema. No caso de As Linhas de Sangue, assim como o Inner Ghost, é a vontade de fazer um cinema já existente sem nenhuma ambição de transmitir uma nova voz ou inserir-se num contexto social.

Não têm receio que possa vir aí uma vaga de cinema pimba? Que comece a aparecer o protótipo do cineasta marante ou Nel Monteiro ?

Paulo Portugal- Insider (blog)

E o Linhas de Sangue não é cinema pimba? A ideia com que fico, talvez por ver muitos filmes em festivais, é que está tudo nas ideias, na forma como se apresentam. E não nos projetos em que se parte para fazer dinheiro. Isso seria uma consequência lógica, porque os filmes devem ser feitos para serem vendidos (como os quadros). A falta de sucesso é que o público é talvez mais inteligente do que eles pensam.

Inês Lourenço-  Diário de Notícias/DN

Não sei responder a isso, porque não vejo uma tendência particularmente expressiva desse tipo no cinema português. Há uma coisa aqui outra coisa ali, mas nada que me transmita a ideia de fenómeno.

Hugo Gomes- C7nema

Concordo com o @Paulo Portugal, um dos grandes problemas do cinema comercial português é nunca saber expor a ideia, a outra é a consciência das suas limitações. Com isso deveriam a aprender mais com as primeiras obras de Spielberg ou até mesmo o método do “desenrasque” das produções do Corman. Se não temos dinheiro para mostrar devidamente um tubarão, mostra-se metade e lá para o final para não existir dúvidas. Em Portugal temos um ditado oriundo de Manoel de Oliveira para isso “se não há dinheiro para filmar a carroça, filma a roda, mas filma a bem”.
Outro problema que vejo neste tipo de produções, principalmente no nosso “cinema de género”, é nunca apostar em novas ideias e assumir a nossa “pequenez” na criação de cópias oportunistas ou estalarmos ao comprido com elementos associativos de Hollywood. Linhas de Sangue foi exemplo disso, o público não estava receptor para aqueles elementos num cinema que não lhe é adaptável. Depois temos filmes como Inner Ghosts que são “cara-chapadas” dos enésimos Insidious e Conjurings, desperdiçando uma oportunidade de adquirir uma voz no luso-terror (se é que existe tal conceito).