Diários de San Sebastián 4
Com máscara as pessoas passam umas pelas outras nos corredores sorriem com uma timidez mais autêntica. O Festival de San Sebastián ensina-nos que não é preciso sorrisos falsos. Num ano em que acabaram as festas pós-premieres, quem passa pelo bar do Hotel Maria Cristina percebe que é ali que está toda a ação e em que uma taça de vinho Rioja pode ser quase tão barata como um café. Mas, atenção, o hotel é cinco estrelas, e o vinho é caro à mesma. Quando pedi um café estava a passar um Johnny Depp todo sorridente e sem máscara. Vinha de bege, ai o horror para uma certa esquerda portuguesa…
Nas salas, digo sim com reserva a El Grande Fellove, a estreia de Matt Dillon na realização. Um doc sobre o músico cubano Fellove. É feito com um sentido sincero melómano mas falta-lhe o golpe de asa, o mesmo que falta a Simon Chama, de Marta Sousa Ribeiro, realizadora jovem que filma com algum défice de chama. Está na secção Zalbategi. Tem coisas boas, material chato e fútil mas uma unidade conceptual interessante na observação de um jovem a ficar jovem adulto. É uma espécie de Boyhood à portuguesa.
Nas antestreias do festival todos os caminhos vão dar a Nomadland- Sobreviver na América, de Chloé Zhao, com uma Frances McDormand que de certezinha vai ser nomeada aos Óscares. O filme que venceu Veneza e Toronto chegou aqui ao País Basco com excesso de “media hype” e talvez tenha defraudado as expectativas. É certo que fala de uma América invisível daqueles que nada têm mas deveria ter outras piruetas narrativas. A certa altura chega mesmo a arrastar-se.
Enquanto isso, Luca Guadagnino, presidente do júri, armou-se em estrela e não quer ser entrevistado por ninguém. Mas ao lado de uma certa cineasta portuguesa foi de uma simpatia que não dá par acreditar.