Foram muitas as vezes que pude falar com Tom Hardy, o ator inglês que tem fama de “difícil”. A última das quais em 2015 no festival de Toronto para a promoção de Lendas do Crime, o épico sobre os irmãos Kray. Passado um dia reparo na internet que o ator enfureceu-se minutos depois da minha vez com um jornalista que terá feito uma pergunta não muito inocente sobre sexualidade. Começo a pensar que há dois Tom Hardy: o tipo calminho e o tipo furioso. Faz sentido: quem conhece bem a sua carreira percebe que ele é pródigo em encarnar personagens com raiva interior mas também tipos com uma certa suavidade.

A primeira vez que o apanhei foi em 2014 para The Drop- O Golpe, onde se destacava por uma gentileza quase comovente. À minha frente tinha um rapaz tão delicado como tímido e capaz de contar histórias de rodagem sempre com um sorriso. Por essa altura, já tinha a tal fama de personagem excêntrico. Comigo e com aquela leva de jornalistas, nada. Sempre muito “cool” e afável. Logo a seguir, em Cap d’Antibes, entrevista “flash” para o papel mais importante da sua carreira: o novo Mad Max de George Miller. Mais uma vez, um Tom Hardy brincalhão e super simpático. Mas uma simpatia com camadas de inteligência. Mesmo com um calor nas rochas do Eden Rock hotel que podia desconcentrar, estive com alguém verdadeiramente empenhado em conversar e dar uma boa imagem. A “fama” de ator respondão e de mal-criado caía realmente por terra.

Ainda assim, em todas as suas respostas, sobra sempre um fator de autenticidade, seja uma gargalhada nervosa, seja uma pausa verdadeira para pensar melhor no que vai dizer. Claro que se suspeita que é dos “caracther actors” que disfarça as suas múltiplas personalidades quando tem jornalistas, sobretudo depois de Capone, de Josh Trank, onde foi dizimado pela crítica. Também eu próprio fiquei incomodado com as doses de cabotinismo nesse papel, mas prefiro recordar o Hardy do The Revenant ou o seu imperial Bane de O Cavaleiro das Trevas Renasce. Nem de propósito, a sua verdadeira voz para o rouco lembra uma noção de omnipresença desse vilão. Esse é o charme de Hardy – ir do tipo doce à sombra da ameaça psicótica. Afinal, desde Bronson, que este foi sempre um dos atores mais misteriosos saídos da Grã Bretanha.

Quando me perguntam como é estar com Tom Hardy, posso ser tentado a responder que pode ser intimidante, mas, ao mesmo tempo, guardo sempre algo mais próximo da vulnerabilidade. Às vezes,  torna-se proveitosa a fragilidade mais sinistra…Se não voltar a fazer exercícios de vaidade como Capone, serei sempre fã assumido.