Temporada dos prémios- os que merecem realmente prémios

Olhando para os filmes com buzz de “awards season”, ainda com o  tão esperado Judas and the Black Messiah por ver, percebe-se que é uma lavra de boa qualidade mas sem um dominador nato. Um ano sobretudo forte e com engarrafamento nas categorias de melhor interpretação. Eis uma aposta opinativa a pensar nos Golden Globes, BAFTA, Spirit Awards e, claro, os Óscares.

Melhor Filme

Nomadland- Sobreviver na América- Chloe Zhao

Road-movie vencedor em Veneza e Toronto, Nomadland é um olhar com uma poesia social sobre os novos nómadas da América de Trump. Apesar da sua inequívoca qualidade, não merece tanta honraria como tem tido até aqui.

Minari- Lee Isaac Chung

Em Portugal deverá estrear para aproveitar as muitas nomeações que vai ter para os Óscares, ou seja, lá para abril. A história da americanização de uma família coreana numa zona rural dos EUA. Um filme de uma beleza tão serena como apaziguadora. Será eterno…

Ma Rainey- A Mãe dos Blues- George C. Wolfe

Aposta forte da Netflix nesta campanha, sobretudo depois de se perceber que os detratores de Mank serem mais do que as mães. Uma história sobre os bastidores de uma gravação de uma diva dos blues nos anos 30…Óbvio que é académico estar com este status nesta categoria…

Judas and the Black Messiah- Shaka King

Ainda não há registo de opiniões sobre este thriller acerca da traição ao líder dos Black Panther por um infiltrado, mas a Warner está a fazer uma notável campanha e o próprio trailer confere: Oscar material!

Os 7 de Chicago- Aaron Sorkin

O famoso julgamento dos manifestantes de Chicago nos anos 60 filmado com a mestria do rei dos argumentistas, Aaron Sorkin. Fica-se com a impressão que se faz em demasia ao prestígio desta corrida…

Da 5 Bloods- Irmãos de Armas-Spike Lee

O melhor Spike Lee dos últimos anos e, sim, estou com a contar com BlackKksman. Nos últimos dias tem ganho balanço devido ao prémio da National Board of Review.

Uma Miúda com Potencial- Emerald Fennell

Típico indie movie de Sundance inflacionado por um certo “hype”…A história de uma ex-estudante de medicina que nas horas livres vinga-se de homens que abusam sexualmente as mulheres. Exemplo de um filme feito para agradar as boas consciências do #MeToo…

One Night in Miami- Regina King

Este contém abordagem ao trauma do racismo e uma evocação a alguns dos mitos da América. A estreia de Regina King na realização é apenas competente, longe de merecer estas distinções…

Sound of Metal- Darius Marber

A revelação de um cineasta que foi capaz de fazer um filme de choque sereníssimo. A sua nomeação para melhor filme não é “sure thing” mas é neste momento o “runner up” para muita da melhor imprensa que influencia todo este jogo…

Never, Rarely, Sometimes, Always- Eliza Hittman

O filme com mais nomeações nos Independent Film Awards é o melhor “indie”até agora. Pode não chegar a esta lista nos Óscares se a Academia não nomear 10 filmes. Eliza Hittman filma um caso de aborto com uma intensidade que nos abala e tira da zona de conforto.

na calha:

Soul- Uma Aventura com Alma, de Pete Docter e Kemp Powers

Mank- David Fincher

Favorito:

Nomadland- Sobreviver na América

Quem merece:

Da 5 Bloods- Irmãos de Armas

Melhor Ator

Chadwick Boseman- Ma Rainey: A Mãe dos Blues

O ator falecido é genial num filme longe de ser genial. Vai ganhar tudo…

Riz Ahmed- Sound of Metal

A maior interpretação da vida deste ator inglês radicado em Hollywood. A Amazon está a preparar uma grande campanha em torno dele e parece ser o único capaz de tirar o Óscar póstumo a Chadwick Boseman…

Anthony Hopkins- O Pai

Desorienta-nos, apaixona-nos e choca-nos. É assim um estrondoso Sir Anthony Hopkins a fazer de pai com Alzheimer neste drama de Florian Zeller que também estreia em breve em Portugal.

Gary Oldman- Mank

Mank pode ser um dos patinhos-feios mas todos fazem vénias ao ator de Leon-O Profissional. Oldman é gigante como o argumentista de Citizen Kane…

Delroy Lindo- Da 5 Bloods- Irmãos de Armas

O veterano ator secundário na sua hora maior. Mas só poderá ter reais chances se os votantes não quiserem dar um Óscar póstumo. Seja como for, Lindo é monstruoso neste papel de afro-americano reaccionário.

Na calha:

Tom Hanks- Notícias do Mundo

Favorito:

Chadwick Boseman- Ma Rainey- A Mãe dos Blues

Quem merece:

Chadwick Boseman- Ma Rainey- A Mãe dos Blues

Melhor Atriz

Carey Mulligan- Uma Miúda com Potencial

Mulligan no papel mais complexo da sua carreira, a de uma vingadora em espiral de ajuste de contas com homens que abusam sexualmente sobre mulheres em contextos de inferioridade. Nesta altura, poderá ter vantagem em relação a Viola Davis e Frances McDormand pelo fator novidade (nunca venceu um Óscar e foi apenas nomeada no começo da carreira) e por ter criado polémica com uma certa crítica masculina que fez rolar muita tinta…

Viola Davis- Ma Rainey- A Mãe dos Blues

A Netflix deve estar a gastar rios de dinheiro na campanha para Viola Davis, impecável a dar vida a uma cantora dos blues com personalidade vincada. Está muito bem lançada.

Frances McDormand-Nomadland- Sobreviver na América

A atriz que venceu o Três Cartazes à Beira da Estrada está empatada com Carey e Viola nisto dos favoritismos. Contra si tem esse rol de prémios recentes mas pode beneficiar do consenso em torno deste filme. Verdade seja dita, o seu naturalismo neste papel é algo de muito tocante…

Vanessa Kirby- Pieces of a Woman

Kirby espantou tudo e todos como uma mulher a gerir a perda traumática de um bebé num parto natural neste filme de “prestígio” que marca a estreia de Mundruczó no cinema americano. Um espanto…

Zendaya- Malcom & Marie

A melhor de todas as interpretações. Zendaya é uma força da natureza numa mulher que pode ser tudo: vítima, abusadora, louca, sensual e lúcida. Talvez pague a fatura por este filme não ter o lastro de festivais e de ser uma das entradas à última da hora.

Na calha:

Andra Day- Estados Unidos Vs Billie Holiday

Sidney Flanigan- Never, Rarely, Sometimes, Always

Sophie Loren- Uma Vida à Sua Frente

Favorita:

Carey Mulligan- Uma Miúda com Potencial

Quem merece:

Zendaya- Malcom & Marie

Melhor Atriz Secundária:

Maria Bakalova- Borat Subsquent Movie

Não é só a Amazon a fazer lobbie por esta descoberta de Sacha Baron Cohen, é também o povo, isto é, os fãs de Borat na internet. Cada vez mais, esta atriz europeia parece ter caído nas boas graças. A sua interpretação quase de comédia física é um achado que remete para as memórias de O Meu Primo Vinny, quando Marisa Tomei superou tudo com a sua energia. Às vezes, uma revelação, uma nova cara, acaba por levar vantagem…

Ellen Burnstyn- Pieces of a Woman

Cada vez que a mãe implacável de Vanessa Kirby aparece, tudo pára. A vencedora do Óscar de Alice já não Mora Aqui é de uma subtileza tremenda…Fica a impressão que esta senhora já merecia andar nestas lides há bem mais tempo – Requiem for a Dream já foi há muito…

Amanda Seyfried- Mank

A sua Marion Davies no filme de Fincher é um presente de carreira incrível para uma atriz que tem tido problemas em sair da tração dos filmes de Mamma Mia! E ela agarra-o bem, aliás, nunca se pensou que tivesse essa vertigem…

Youn Yuh-jung- Minari

A avó de Minari é outra das favoritas numa interpretação que pode ser premiada pela necessidade de encontrar diversidade étnica nos vencedores. Seja como for, a senhora é tremenda.

Glenn Close- Lamento de uma América em Ruínas

A veterana atriz não falha, nem mesmo num filme que é visto como uma desilusão consensual. Claro que esta avó coragem tem algo de boneco (o penteado…o sotaque…a caracterização), mas as suas explosões dramáticas nos momentos de clímax do filme não deixam ninguém indiferente.

Na calha:

Olivia Colman- O Pai

Favorita:

Maria Bakalova- Borat Subsquent Movie

Quem merece:

Maria Bakalova- Borat Subsquent Movie

Melhor Ator Secundário:

Leslie Odom Jr.- One Night in Miami

Cantar e ser igual a Sam Cook não é para todos. O actor de Um Crime no Expresso do Oriente faz mais do que isso: gere uma imensa empatia…

Sacha Baron Cohen- Os 7 de Chicago

O famoso comediante num dos seus papéis mais dramáticos é convincente, ok, tudo bem. Mas daí estar com todo este lançamento para as nomeações parece um golpe de marketing…

Danny Kaluuya- Judas and The Black Messiah

Já se percebeu que a comunidade afro-americana ama o ator de Get Out e uma indicação com este papel emblemático de ativista dos Black Panthers já não lhe deve falhar, sobretudo num ano em que os atores negros estão em alta. A Warner está a fazer uma boa campanha com este ator…

Paul Raci- Sound of Metal

É a coqueluche deste ano. Um dos atores que pode ser ajudado pelo facto de Sound of Metal convocar um imenso capital de simpatia, embora a sua interpretação, feita de gravitas, seja mesmo arrepiante.

Glynn Turman- Ma Rainey- A Mãe dos Blues

Porque o filme de Geoge C. Wolfe passa uma ideia de “ensemble cast”, este veterano algo desconhecido pode também sonhar alto. Se for nomeado obviamente não será dos favoritos…

na calha:

Bill Murray- On the Rocks

Colman Domingo- Ma Rainey – A Mãe dos Blues

Stanley Tucci- Supernova

Chadwick Boseman- Da 5 Bloods- Irmãos de Armas

Mark Rylance- Os 7 de Chicago

Favorito:

Danny Kaluuya- Judas and The Black Messiah

Quem merece:

Bill Murray- On the Rocks