O que se descobre do Bergamo Film Meeting numa visita relâmpago? Antes de mais, descobre-se uma cidade aberta à mais pura cinefilia. Um festival sem anomalias de mercado ou de parasitagem de vendedores e agentes. Os convidados são atores, realizadores e amantes cinefilhos.

Depois, nesta edição número 37, salta à vista o golpe bonito de homenagear Jean-Pierre Léaud, que se comoveu na apresentação de Os 400 Golpes, de François Truffaut. Este homem-cinema foi a coqueluche de uma edição que teve ainda a esperteza nada saloia de apresentar uma retrospectiva de   Bent Hammer, cineasta da Noruega que em Portugal é ignorado. Quem em Bergamo descobriu Kitchen Stories percebeu que o seu cinema é uma mistura sem juízo de Aki Kaurismaki com Roy Anderson.

Mas do festival de Bergamo fica também o lado afetuoso. Uma equipa que acompanha os convidados e uma cidade que se abre ao festival. Todos os caminhos foram dar ao Auditório.

Cereja no topo do bolo, a exposição tremenda de Roberto Villa, fotógrafo que documentou a rodagem de Il Fiore delle Mille e Una Notte, de Pasolini. A exposição aproveitou bem o espaço da ex-igreja da Madalena, no centro de Bergamo, e passou para quem viu o sentido poético de uma obra que importa ser de novo celebrada. As fotografias de Villa, entre retratos e olhares nada discretos para Pier Paolo, são sempre assombros rugosos de vida.