Brevemente: (3 de dez na Netflix)
MANK, de David Fincher, com Gary Oldman
Abram-se as garrafas de champanhe: o novo David Fincher merece festa de celebração. Para já porque é o melhor filme do homem em muitos anos, depois porque é em si uma celebração do espírito cinéfilo e evocativo a Hollywood. A história das atribulações da escrita do argumento de Citizen Kane- O Mundo a Seus Pés, o filme de Orson Welles por Herman Mankiewicz. As relações do argumentista com o poder de Hollywood, com W. R. Hearst e a aposta de um ambicioso Orson Welles num guião que a RKO não interferiu.
Filmado como se fosse um bibelô cinematográfico dos anos 30, Mank não tem medo de ser palavroso, “name droping” nem cínico até à medula. Temos um Fincher a filmar com prazeres estéticos perfeccionistas e a homenagear a própria arte de Welles. A surpresa é que o argumento do seu pai, Jack, é rápido, afiado e certeiro. Em última instância, é uma carta de amor desvairado ao próprio ato do guionismo. Que a Netflix gaste milhões a apostar num filme de longa duração onde apenas só se fala de cinema e dos podres da sua indústria, poderia ser um dos espantos do filme. Mas Mank está sempre na ordem do espanto. Espanto maior ser, afinal, um filme eminentemente politizado e uma exumação dos velhos fantasmas de Hollywood.
Claro está que Amada Seyfried e Gary Oldman vão ser muito nomeados nesta temporada de prémios…