O Leopardo de Ouro de Locarno arrisca-se a ser o melhor Pedro Costa de sempre. Mas é complicado estar a escolher entre filmes que estão sempre do lado da dimensão humana de cada personagem. Este está do lado da mulher do título, viúva que vem atrasada de Cabo Verde para a Cova da Moura para o funeral do marido. Vem tarde porque esperou uma vida por uma vida melhor ou um bilhete de avião. Em Lisboa vai encontrar um passado e fantasmas que só podem ser ultrapassados se encontrar um caminho para o Senhor.

Vitalina Varela é do lado do religioso, tem as pegadas sagradas de um caminho para o céu. A câmara de Costa, cada vez mais meticulosa no desenho de uma luz de pintura que faz parar o tempo, deixa-se ir perante esse sagrado, algo que vem de dentro da dor desta mulher. E vai das trevas à luz, trazendo esperança e coração. Filme optimista? Não exageremos, mas é talvez a primeira vez que nos sentimos mais perto daquelas pessoas, daquela comunidade.

O nosso cineasta mais internacional expande-se no seu cinema de ética. Resultado: obra para além da morte, obra de uma beleza que não se explica. Ou o cinema como lugar onde podemos estar mais perto de nós mesmos…