Aitor Gabilondo
https://www.youtube.com/watch?v=S8NPYhy_ml8
Pátria é a série que se fala. A nova pérola da HBO Portugal, uma adaptação do livro de Fernando Aramburu, escritor que imaginou uma saga entre duas famílias ao longo dos anos com a tragédia da ETA como pano de fundo. Esta ficção televisiva espanhola tem um efeito catártico esmagador e foi inteiramente filmada no País Basco com atores da região. Aitor Gabilondo, o autor desta adaptação respondeu em San Sebastián a algumas perguntas do cinetendinha.
- Que tipo de debate nacional ou regional esta série poderá provocar aqui em Espanha? Acredita que o tabu é ainda grande?
- Espero que o debate seja são. E espero que estas histórias de ficção ajudem todos a compreender como é que a sociedade civil reagiu a este trauma da ETA. Esta é apenas uma abordagem, espero que nos próximos anos apareçam mais. A ficção é muito importante para debater as histórias verdadeiras.
- Pátria está a ter uma mega campanha mediática em Espanha e em toda a Europa. A expectativa é enorme e agora a série é exibida precisamente aqui, mais simbólico era impossível, sobretudo para os atores bascos e também para si, nascido em San Sebastián…
- Estamos muito conscientes de como esta série toca os cidadãos desta região. Toda a equipa sente esse incómodo emocional que o tema provoca, somos daqui..
- Esse incómodo emocional parte de poder haver opiniões contraditórias sobre este tabu?
- O incómodo está logo no ato de se abordar o tema. O tema da ETA era algo que muitas vezes provoca clivagens e muita gente preferia não falar. Falar poderia significar meteres-te em problemas e isso durante muitos anos. Falar era uma forma de exposição e uma maneira de te colocar numa determinada trincheira. Ninguém queria estar nessa situação. O que se passa com a questão dolorosa da ETA é que afetou muitas famílias, enfim, afetou toda a sociedade. Creio que a série remove o tabu dolorosa mas também vai obrigar muita gente a enfrentar aquelas memórias de um tempo doloroso. Trata-se de meter o dedo na ferida. Lembro-me que as pessoas não falavam umas com as outras sobre isto, nem no trabalho nem na família. Sinto que era uma coisa tácita. Depois de tanto tempo passado, Pátria fala de algo que antes se evitava, era muito fácil abstermo-nos de dar a nossa posição. Isso não era cobardia, era apenas sobrevivência e a única forma de se conseguir manter a convivência social. Venho de uma família grande e a minha avó tinha medo das celebrações. As festas têm álcool e as pessoas com o álcool soltam a língua. Pátria fala de um tempo específico da ETA mas toda esta história vem de trás, muito de trás, dos anos 60 e 70. A problemática envolve muita coisa e a organização tinha um apoio social imenso, mas, pouco a pouco, foi-se perdendo. A sociedade deixou de apoiar a ETA. Para nós é muito complicado gerir tudo isto, sobretudo toda a violência que foi imposta.
- Esta série terá um impacto global, sobretudo porque está na HBO. Essa particularidade mudou algo na forma como adaptou o livro de Fernando Arumburu?
- O que Pátria mostra a todo o mundo é como as consequências podem ser negativas de um extremismo como este. Claro que tudo muda e todas as opiniões podem ser debatidas, sobretudo se o forem democraticamente.
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