Tom McCarthy
“Stillwater é um filme complicado”
ENTREVISTA FLASH
Conversa em Cannes, exclusivo em Portugal: Tom McCarthy fala do seu novo filme, o belo Stillwater, crónica de um americano redneck em França. Matt Damon é estupendo numa obra que em Portugal só chegou agora aos videoclubes das operadoras.
Depois da bonança dos Óscares com O Caso Spotlight tinhas pressão para o projeto seguinte ou o Timmy Fiasco: Sempre a Meter Água para a Disney + serviu de intermediário?
Nunca vejo as coisas nesse prisma da pressão. O que levo da experiência dos Óscares é estarmos a sair do palco e o Josh Singer, o co-argumentista, dizer-me: já tirámos isto do nosso sangue. Senti que depois de tudo aquilo tinha é de voltar ao trabalho. Um cineasta tem mesmo de esquecer essas coisas. E para o projeto seguinte só tinha é de fazer o que o meu coração me dizia, escolher o que é mais puro. Mas durante o ano passado tive uma tremenda dificuldade criativa, sobretudo porque o meu cinema é muito pessoal, a pandemia tirou-me o foco. Tinha de ter as ideias claras para saber o que queria fazer. Mas claro que Spotlight permitiu-me fazer um filme como Stillwater, não é um filme fácil. O meu produtor, que entretanto faleceu, gostou do meu pitch e só me perguntou: o que precisas? Respondi-lhe que queria trabalhar com argumentistas franceses. E correu muito bem, o filme acabou por mudar muito: só a base continuou, a história de um americano do Oklahoma que vai até Marselha para tentar libertar a filha da prisão.
E estar na seleção oficial de Cannes mexe com o ego de um cineasta?
Foi a minha primeira vez! Sempre sonhei poder filmar em França. Depois, mal começámos a acabar a pós-produção ficámos muito felizes só que achámos que não iríamos conseguir terminar tudo para poder estar aqui a temo. Só que entretanto o mundo parou e as datas mudaram. Mas é mesmo importante chegar a este festival. Não há nenhum festival que honre desta forma o “cinema do mundo”. Estão cá os cineastas que mais respeito. É um privilégio estar no meio de todos…Este é um filme complicado e ajuda ter o carimbo de Cannes, sobretudo para os americanos perceberem ao que vão. Trata-se de um filme original mas que não é um Bourne, um Taken ou um thriller clássico. Quisemos ter um tom e uma forma na estrutura desafiante, tal como acontece com muitos filmes de Cannes. Stillwater é provocador na sua própria identidade de género.
Fiquei muito surpreso com a decisão de filmar um verdadeiro jogo no estádio do Olympic Marselha…
Foi tão real que na montagem tivemos de cortar muitas cenas quando os figurantes estão no estádio embasbacados a olhar para o Matt Damon. E aí percebe-se que não eram os verdadeiros adeptos do OM, esses nem que fosse o papa desviariam os olhos do relvado. Primeiro, não tivemos autorização. Levámos duas recusas. Aliás, foi sempre assim em todo o lado em Marselha.
A pandemia está mesmo a prejudicar o seu processo de criação?
Sim, não é fácil. Mas estou a preparar um projeto televisivo que já comecei há muito tempo. Em termos de cinema, ainda estou numa fase inicial para procurar material. Ainda não tenho nada concreto. Em geral, a inspiração chega-me aos poucos. Isto da pandemia é uma distração desgraçada!