As vibrações de uma verdadeira estrela de cinema
A imagem desta noitada em Cannes parece um anúncio mal feito às festas Revenge of the 90’s. Eu e DiCaprio na Croisette, em 1998. O rapaz fresco do sucesso de Titanic e em vésperas da estreia do sofrível O Homem da Máscara de Ferro.
Lembro-me, como se fosse anteontem. O ator, ainda muito jovem na altura, e a sua atitude “punk rock” muito honesta. Alguém que era apenas a estrela de cinema mais amada na altura e andar sem seguranças e sem problemas em Cannes. Simpático, acessível e curioso, ainda que passados estes anos me recorde perfeitamente que aquele nosso ar esgrouviado se devia a uma festa cannoise quando Cannes ainda sabia celebrar.
E porque às vezes não fecho os olhos, voltei uns dias depois a encontrar o rapaz, meio perdido, no aeroporto de Nice a tentar encontrar sozinho o local para o check-in. Qual não foi a minha surpresa que me cumprimentou! “Hi man! How was Cannes?”. Confesso que nem lembro qual foi a minha resposta “boutade”.
Por falar em lembranças, DiCaprio passado uns anos, na companhia de Scorsese, cruzou-se comigo em Nova Iorque nas entrevistas do mal-fadado Gangues de Nova Iorque, filme que parece ter ganho uma carga algo nefasta, embora eu tenha um lugar bem forte no meu coração para ele… E aí era um DiCaprio mais homenzinho, sem caretas mas também com aquela onda positiva que talvez nunca venha a perder. Estava orgulhoso de trabalhar com o seu ídolo e a sua interpretação poderia não ter o grau operático da de Daniel Day-Lewis mas era qualquer coisa. Aliás, desde cedo que DiCaprio consegue sempre um elemento de magia nas suas atuações. É um ator predestinado e alguém com um séria capacidade engenhosa em escolher projetos. Mesmo os seus filmes menos conseguidos dão-lhe espaço para fazer um tipo de “acting” diferente de tudo o que vemos em Hollywood.
E mesmo que pareça um corpo estranho, sempre conseguiu estabelecer-se como “movie star”, como um grande “leading man”. Melhor de tudo, soube ficar adulto à nossa frente sem perder aquela capacidade de envolver emocionalmente o espetador.
Ator emotivo? Sim, emotivo e enraivecido. O que ele consegue em O Lobo de Wall Street é absolutamente supremo. Uma vergonha não ter sido agraciado pela Academia…
A última vez que estive com ele foi numa entrevista para o telejornal da SIC, em Cap D’Antibes. Foi na altura de O Grande Gatsby e apanhei a sua versão mais segura, com uma construção de maturidade muito arquitetada. Não era o DiCaprio das lendas das festas selvagens nem o DiCaprio que se passou com Lady Gaga quando quase chocaram na cerimónia dos Golden Globes.
Quando me despedi com o aperto de mão da praxe não sei se piscou o olho – estava de óculos escuros. Claro que não piscou, agora é um ator de respeito. Até vai fazer de Roosevelt para o Scorsese…