Balanço…
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O Festival de San Sebastián está a acabar e hoje fica já um balanço de um festival que leva a sério as regras da direção geral de saúde basca. Máscara, máscara e máscara, já para não falar das cadeiras ao lado vazias, da ausência das filas e de sermos sempre obrigados a banhar as nossas mãos no gel desinfectante a toda a hora. É a vida. Claro que há quem se desse mal como o cineasta Eugéne Green, expulso do festival por não acatado estas ordens. Ordens são ordens e não recomendações.
Mas o que fica do festival são recomendações, a maior delas Another Round, de Thomas Vinterberg, hino à vida que pode dar a Concha de Melhor ator ao sempre imenso Mads Mikkelsen. Esta ode a estarmos despertos é uma espécie de Clube dos Poetas Mortos com uma taxa alcoólica intolerável.
Recomenda-se também o doc de Matt Dillon El Grande Fellove, sobre o músico cubano que misturou vários estilos e nunca foi devidamente reconhecido. Uma câmara que se deixa ir com o flow desta música e que ajuizadamente coloca Matt Dillon também na história.
San Sebastián será também marcado pelo poder fleumático de Sir Anthony Hopkins em The Father, a estreia na realização do dramaturgo Florian Zeller, uma obra razoável que desmonta a própria peça do autor francês. Olivia Colman é brilhante também. E é também prudente aderir ao novo de Maiwenn, ADN, conto sobre um luto familiar mas que é sobretudo auto-terapia bem divertida.
E num festival de atores é impossível não irmos parar aos atores de Verão de 85, de François Ozon, Benjamin Voisin e Félix Lefebrve, corpos em fúria num doce filme gótico ou à mágoa serena de Colin Firth nesse terno Supernova, de Harry Macqueen. De Portugal Rita Martins também soprou bem forte no nosso coração como mãe cansada em Simon Chama, de Marta Sousa Ribeiro, filme com demasiados altos e baixos.
Nos cadernos das queixinhas, Woody Allen pode ser o campeão com Rifkin’s Festival, uma história sobre egos em pleno Festival de San Sebastián. Entra diretamente na lista dos piores filmes de Allen, mas o pior filme visto no festival terá sido Miss Marx, de Sussanna Nicchiarelli, a história da filha de Karl Marx. Cinema armado ao pingarelho com uma atriz que não agita, Romola Garai.
Para o ano vamos rezar que as entrevistas sejam mais presenciais e que não haja medo de organizar festas. Este ano faltou o sal das tertúlias, mesmo quando Viggo Mortensen, Matt Dillon e Johnny Depp fizeram questão de marcar presença.