Impressões da 71ªBERLINALE
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Um festival confinado sem sessões de cinema ao vivo. Mas Berlim 2021 resultou nesta edição virtual. Os filmes tiveram qualidade, surgiram revelações e sentiu-se diversidade. Aquela marca tão comum ao festival, de filmes com pensamento espartano político, manteve-se e até se pode dizer que se sofisticou. Sente-se que a imprensa marcou presença, bastando ver a forma como os próprios diários portugueses conseguiram uma forte cobertura.
Quanto aos filmes, sentiu-se a falta de algum cinema americano – os produtores americanos acreditaram em Sundance mas temeram o efeito online berlinense. Foi também estranho obras como Bestsellers, com Michael Caine e French Exit, com Michelle Pfeiffer, não terem tido ok para serem mostradas à imprensa. Muito estranho.
Sobre o Palmarés, palmas para o júri que soube perceber a força de Bad Luck for Banging or Loony Porn, de Radu Jude, comédia feroz sobre a hipocrisia romena. Uma história de uma professora posta em causa depois de um vídeo sexual caseiro ir parar à net. Filmado em três segmentos: o escândalo, um intervalo com “pequenas anedotas” sobre as heranças históricas e sociais da Roménia e , por último, uma possibilidade em forma de sitcom de três finais diferentes. Entre o caos mais radical e um humor filho da mãe, Bad Luck for Banging é um triunfo do cinema mais experimental europeu, mas é sobretudo uma enormíssima diversão intelectual.
Menos positiva a ausência nesse mesmo palmarés de obras como Albatros, o novo de Xavier Beauvois e Petite Maman, de Céline Sciamma. O filme de Beauvois impressiona por relatar com uma secura extraordinária a dor de um polícia e o de Sciamma é uma bela homenagem ao espírito das animações de Myazaki, relatando um conto do fantástico com um humanismo no mínimo terno.
Na competição, impossível não ter aderido ao delicioso Introduction, de Hong Sangsoo e ao meticuloso documentário de Maria Septh, Mr. Bachmann and His Class, embora Wheel of Fortune and Fantasy, de Ryusuke Hamagushi tenha justificado o seu Urso de Prata- Grande Prémio.
Fora da competição, o melhor que se viu na Berlinale esteve no Panorama, All Eyes off Me, de Hadas Ben Aroya, crónica de um sereno desespero dos millennials israelitas, enquanto que na secção Encontros, os manos Rucher tenham deslumbrado com The Girl and The Spider, a prova de que da Suíça há uma nova vaga a seguir…
Tudo isto num festival que colocou os nossos distribuidores à caça de muitos e bons filmes. Sabe-se, por exemplo, que o Urso de Ouro vai mesmo estrear entre nós….