Depois do sucesso no TIFF, o filme de Tiago Guedes está já nos nossos cinemas.
O esplendor e a desgraça de Portugal durante 40 anos, da véspera do 25 de Abril até ao final do século passado. Com histórias cruzadas que relatam lutas de classe, movimentação política, incesto e um sonho de grandeza, A Herdade assume sem problemas uma ideia de fôlego épico. Mas o que é verdadeiramente relevante no filme é a serenidade dramática com que Tiago Guedes sugere todo esse ímpeto de saga.
Para quem pergunta se A Herdade é um marco no cinema português, a resposta é clara: obviamente que é. Um objeto de cinema que repensa um desígnio de um destino português, colocando na mesa questões como o peso da Reforma Agrária, a sua ressaca, a forma como a banca veio a intervir nos latifúndios e tantos outros espelhos que consubstanciam a fatura do 25 de abril. Mais do que tudo, é um filme que repensa o peso do silêncio como fundamento dramático. Um testamento sobre uma ideia de masculinidade portuguesa e a sua impunidade. A personagem Albano Jerónimo, o dono da imensa herdade que dá título ao filme, é um paradigma de uma forma de ser português, mesmo quando destrói todos os que ama. A Herdade cruza também habilmente vários registos referenciais, vai do melodrama clássico de Holywood a Bertolucci sem nunca perder o norte por um imaginário do cinema português.
E depois há um Albano Jerónimo superlativo, com uma das maiores interpretações de sempre do cinema português, mas é importante não esquecer João Pedro Mamede, Miguel Borges e Sandra Faleiro.