Uma onda de cinema português chegou à HBO Portugal. Sinal de aproximação ou apenas um truque de marketing. Talvez só tempo poderá desvendar. Duas produtoras com filmes no cardápio da plataforma reagiram a esta aposta.
Quem for assinante da HBO Portugal já deve ter começado a reparar: o cinema português entrou em força no catálogo. O gigante americano de “streaming” apostou em filmes portugueses e cada vez mais é possível escolher propostas contemporâneas para todos os gostos. A HBO consegue assim dar conteúdo nacional e chega mesmo a criar uma secção chamada Isto é Portugal, onde estão filmes recentes e alguns com uma janela nada distante em relação à sua estreia em cinema, como o belíssimo Mosquito, de João Nuno Pinto, obra que teve as honras de abertura este ano do Festival de Roterdão.
Além desta produção de Paulo Branco, destacam-se Mistérios de Lisboa, de Raul Ruiz; Carga, de Bruno Gascon; Ramiro, de Manuel Mozos ; Diamantino, de Daniel Schmidt e Gabriel Abrantes; Tabu e Aquele Querido Mês de Agosto, ambos de Miguel Gomes ou Yvone Kane; de Margarida Cardoso. Paralelamente ao conteúdo de cinema, há ainda um olhar pela ficção televisiva através de séries que a RTP co-produziu como A Herdade, de Tiago Guedes, Auga Seca, produção de Leonel Vieira e Vidago Palace, com essa revelação chamada Mikaela Lupu.
Da parte da HBO Portugal ninguém quis abordar esta aposta concertada na ficção nacional. Aliás, a estratégia desta plataforma passa precisamente por não comentar as suas apostas de programação. O que se percebe é que foi a HBO Portugal a primeira plataforma internacional a apostar em cinema nacional de qualidade, dando aqui um passo em frente à Netflix, a sua competidora mais direta.
Maria João Mayer, produtora de São Jorge, Yvone Kane e Diamantino, não sabe ainda dizer que se esta iniciativa pode vir a ser rentável para o cinema português, mas admite que pode dar visibilidade aos novos filmes: “fiz uma abordagem para me comprarem estes três filmes e recebi uma proposta com valores muito baixos, mas também sabia que isto não é tanto pelo lado financeiro – interessava-me começar uma relação de trabalho com eles”, prossegue e adianta que receia que “tudo possa vir a ser um pouco fogo de artifício para inglês ver. Seja como for, é um começo, uma expectativa. Vou tentar que isto dê frutos, embora dependa também se eles querem o nosso trabalho no futuro”.
De referir que para além do VOD (o video on demand, disponível nos clubes de vídeo das operadoras), da janela para a televisão paga (os TVCine), e ainda a janela de televisão aberta, agora surge ainda esta novo “timing” de lançamento que contempla igualmente plataformas como a Spamflix e a Filmin.
Joana Domingues, a responsável pela Caracol, a produtora de Carga, a aproximação à HBO Portugal traz benefícios: “o facto de Carga integrar um catálogo como o da HBO Portugal veio permitir ao filme chegar a um público diferente daquele que já havia alcançado a nível nacional e internacional tanto no cinema como na televisão. As vantagens são enormes e não quantificáveis pois numa área como esta é essencial que os realizadores e as suas obras possam chegar ao público, esteja ele onde estiver e neste caso encontram uma grande janela para o fazerem. Fica o desafio de numa próxima fase apostarem na produção nacional numa óptica de investimento. Talvez seja esse o grande impulso que o cinema e a ficção portuguesa necessitam”. Para já, pelo que vai sendo revelado ainda não há filmes portugueses com ajuda na produção da HBO.
Resta aguardar se em breve haverá novidades nesta plataforma de dois dos maiores sucessos do cinema português recentes, Pedro e Inês, de António Ferreira e Variações, de João Maia, atualmente um dos grandes destaques na programação dos TVCine.
A Mãe é que Sabe, de Nuno Rocha; Malapata e Solum, ambos de Diogo Morgado; e Embargo, de António Ferreira estão também disponíveis para os assinantes. A HBO Portugal não quis também revelar quais os filmes portugueses com maior número de visualizações…