Antestreia
SOUL- Uma Aventura com Alma, de Pete Docter
Depois de Onward, a Pixar no mesmo ano dá-nos Soul, de novo a brincar com conceitos rebuscados de fantasia e troca de corpos. Não é falta de originalidade nem de estratégia conceptual, apenas uma coincidência – os filmes não poderiam ser mais diferentes. Esta história sobre um professor de jazz que está no limbo entre a vida e a morte é um conto filosófico sobre o sentido da vida bastante mais para adultos. Decididamente, está mais perto do engenho cinematográfico de Inside Out ou de Up-Altamente e consegue a proeza de ser tão vanguardista como comovente.
A Pixar então no seu melhor com Pete Docter a jogar com uma respiração jazzística onde se fala do manifesto da música negra improvisada, da melomania mais legítima e da alienação de uma sociedade. Um conto de almas perdidas mais negro do que se poderia imaginar mas com meia dúzia de momentos hilariantes que inovam mesmo dentro dos “standards” da Pixar. Escusado será dizer que do ponto de vista técnico há um trabalho de iluminação novo e a música de Aticus Ross e Trent Reznor ainda ajuda mais para despoletar essa impressão de “novidade”.
Acima de tudo, ficamos com a sensação de que Capra reencarnou no espírito da Pixar, porventura a maior fábrica de sonhos do cinema americano.
Não é de espantar que esta coleção de ideias insanas próximas de um objeto vanguardista radical tenha tido o carimbo de seleção oficial de Cannes 2020…
Um caso com outros contornos foi o do filme da Disney, Mulan, que teve antestreia no inicio de marco mas viu a estreia adiada, ate ir diretamente para streaming (e aluguer online) no servico Disney+. Fica disponivel em dezembro em Portugal para subscritores do servico. Rui Tendinha, critico de cinema do DN e do Cinetendinha.pt, admite que o facto de filmes como Mulan ou Soul passarem logo para “veio assustar alguns estudios de Hollywood”, admitindo que o paradigma “veio para ficar”. O analista e professor americano Scott Galloway concorda e diz que e uma tendencia inevitavel em que gigantes como a Disney devem apostar ainda mais. “Nao vao ganhar centenas de milhoes logo em receitas de bilheteira, mas criam uma estrutura para o futuro com receitas mensais solidas”, admite, referindo-se a um modelo de negocio diferente. Rui Tendinha teme pelo futuro do cinema nas salas, especialmente para os filmes mais pequenos (dai pedir mais apoio aos cinemas de bairro), mas acredita que ao contrario de Borat, sem grandes cenas de acao e que ganha muito em ir logo para streaming e em chegar em poucos dias ao mundo inteiro, blockbusters como Top Gun ou Missao Impossivel “continuam a so fazer sentido estrearem nas salas, porque e la que se tem a experiencia plena”.