Antestreia

SOUL- Uma Aventura com Alma, de Pete Docter

 

 

Depois de Onward, a Pixar no mesmo ano dá-nos Soul, de novo a brincar com conceitos rebuscados de fantasia e troca de corpos. Não é falta de originalidade nem de estratégia conceptual, apenas uma coincidência – os filmes não poderiam ser mais diferentes. Esta história sobre um professor de jazz que está no limbo entre a vida e a morte é um conto filosófico sobre o sentido da vida bastante mais para adultos. Decididamente, está mais perto do engenho cinematográfico de Inside Out ou de Up-Altamente e consegue a proeza de ser tão vanguardista como comovente.

A Pixar então no seu melhor com Pete Docter a jogar com uma respiração jazzística onde se fala do manifesto da música negra improvisada, da melomania mais legítima e da alienação de uma sociedade. Um conto de almas perdidas mais negro do que se poderia imaginar mas com meia dúzia de momentos hilariantes que inovam mesmo dentro dos “standards” da Pixar. Escusado será dizer que do ponto de vista técnico há um trabalho de iluminação novo e a música de Aticus Ross e Trent Reznor ainda ajuda mais para despoletar essa impressão de “novidade”.

Acima de tudo, ficamos com a sensação de que Capra reencarnou no espírito da Pixar, porventura a maior fábrica de sonhos do cinema americano.

Não é de espantar que esta coleção de ideias insanas próximas de um objeto vanguardista radical tenha tido o carimbo de seleção oficial de Cannes 2020…