O maior festival da América do Norte é o TIFF, o Toronto International Film Festival, que me voltou a convidar.
Diário possível de um festival onde é impossível ver os filmes todos e onde elejo Roma, de Alfonso Cuáron, Green Book, de Peter Farrelly e Gloria Bell, de Sebástian Lelio como os melhores.
Dia 1
Piers, O director do festival despede -se e não menciona a Joana Vicente , que o vai substituir . Mas garante que cerca de 36 por cento dos filmes são realizados por senhoras e que no futuro as paridade de género será uma realidade no festival .
A abertura teve honras da Netflix que nos trouxe Outlaw/King , do David MacKenzie. É um Braveheart com o triplo do sangue e tem verdadeiro sentido escocês .
Na Midnight Madness sobrevivi a O Predador, de Shane Black . Não soa a remake, não soa a reboot. É fresco . Tão fixe a Fox fazer estes filmes com assinatura autoral …
Entretanto , o Matthias Schoenaerts, star de Kursk, disse-me que não sabia falar português . Fiquei de boca aberta.
Dia 2
Remake? Digamos que é muito mais do que isso: Gloria Bell, de Sebastian Lelio. Papel de uma vida para a Julianne Moore.
Nas nuvens também com Vox Lux , do Brady Cobertt. A Natalie Portman, hoje ao cinetendinha , contou-me que adorou o filme e que foi duro fazer 30 takes de seguida . O Brady garantiu -me que aceitou o convite para vir em novembro ao Leffest! A Natalie ao ouvir isso exclamou “ oh my god!”.
Mas a primeira surpresa é o Caderno negro , de Valéria Sarmiento. Ficamos colados! E tem lá a grande Catarina Wallenstein. Preciosa…
Dia 3
Em White Boy Rick, filme da Sony , o meu bff Matthew McConaughey diverte-se a fazer mais uma personagem “white trash” para a sua coleção . Mas quem rouba todas as cenas é esse estreante se 16 anos chamado Richie Merritt ( o seu bigode está a crescer ).
Felizmente , bem melhor é Ben Is Back , com Julia Roberts . A atriz contou -me que devemos ser mais humildes quando nos elogiam …noted.
A desilusão do dia foi Teen Spirit, fábula de pais ausentes com um realizador que julga que fazer à vídeo-clip é um gesto de modernidade . O realizador é o teen idol Max Minghella.
Por agora , vamos ver como o festival se aguenta com o primeiro raid de sempre no mercado da distribuidora portuguesa nitrato filmes . Todo o cuidado é pouco …
Dia 4
Ontem a Lady Gaga enfrentou a imprensa em Toronto e olhou-me bem nos olhos enquanto elogiava o talento de Bradley cooper enquanto realizador . E, surpresa , não me falou do seu desejo de ser minha vizinha na Sé…E quer queiramos que não, o TIFF já colocou Assim Nasce uma Estrela na corrida da temporada dos prémios…
Felizmente , o meu momento do dia foi a reinvenção de Steve McQueen enquanto realizador de filmes de golpe . Viúvas é um triunfo mas está a léguas de Shame. Enquanto isso , aprovo muito If Beale Street Could Talk, do Barry Jenkins , que adapta James Baldwin, mesmo apesar de usar e abusar de símbolos sagrados ( ai, o peso da música de Miles Davis e Nina Simone …). Sim, vai aos Óscares …
Dia 5
Estado de graça também pode ser estado de simpatia . Lição a tirar de The Old Man And The Gun, de David Lowery, o tal último filme de Robert redford. Apenas vos digo que tem a subtileza modesta dos grandes clássicos .
E claramente que o Kit Harrington não salva o The Life And Death of John F. Donovan , de Xavier Dolan, que juntamente com High life , de Claire Denis, são os patinhos feios do festival . No meu caderno de queixinhas cabe lá ainda o Vision, de Naomi Kawase, misticismo japonês de mau gosto para enganar cotas ocidentais …
E há pouco a falar com o Ryan Gosling percebi que o rapaz vai voltar a realizar . Estou com ele !
Dia 6
Coisas bizarras que acontecem no TIFF: descubro que o Robert Pattinson fez repost do meu post ou apanho o Ryan Gosling a confessar -me que vai voltar à cadeira de realizador .
Quanto à corrida para a temporada dos prémios , a Nicole Kidman em Boy Erased é “game” ( mas para atriz secundária ). O filme do Joel Edgerton também é bem recomendável , tal como o de Sam Taylor-Johnson, o A Million Little Pieces, que não deixa de exibir sintomas de projeto de vaidade para o Aaron Taylor-Johnson, ator sem medo dos planos full frontal .
Por fim , Colette, com Keira Knightley a entregar -se com prudência a cenas de sexo lésbico , cumpre . Bom filme sobre liberdade sexual para toda a família …
Dia 7
Ontem foi dia de uma surpresa arrepiante: Green book, candidato forte ao People’s Choice award. O filme de Peter Farrelly é terno, afiado e seco. Uma imensa comédia dramática que ganhou no TIFF o impulso para a temporada dos prémios .
Desilusão foi Destroyer, com uma Nicole Kidman em exercício de vaidade a compor número de white trash.
De todos os encontros que tive aqui em Toronto destaco aquele que tive de forma acidental com Bradley Cooper , rapaz que revela uma simpatia cavalheiresca, sem peneiras .
Gostei também de estar com o Kit Harrington, que não me falou da Madonna em Lisboa e com a Natalie Portman , que acabou por falar de Madonna em Lisboa .
Guardo também no coração o sorriso verdadeiro da Léa seydoux e o beijinho de Júlia Roberts , que regressa a sério em Ben Is Back, filme do Peter Hedges que terá perdido em Toronto o impulso para os Óscares