Por Rui Pedro Tendinha

Olhamos para o top dos filmes mais vistos de verão e ficamos a perceber o gosto dos portugueses? Os portugueses só querem cinema de entretenimento de grande estúdio americano? À primeira vista, parece que sim, mas talvez não seja pelos filmes com maior faturação que de forma taxativa temos a bitola do chamado gosto português. Se formos às médias por cópia, as coisas equilibram-se mais. Nem tudo é Hollywood. Um filme como No Coração da Escuridão, de Paul Schrader, faz 10 mil espetadores ainda sem o peso da potencial campanha para os Óscares. Os que o foram ver acreditaram na crítica. O simpático A Livraria, de Isabel Coixet, ignorado pela imprensa, também encontrou uma surpreendente falange de apoio. Porquê? Porque em certos meios o boca-a-boca é ainda o maior trunfo.

É claro que um cinéfilo cai para o lado com os números confrangedores de Happy End, de Michael Haneke, que antes atraía milhares às salas. Também o belo O Meu Amigo Pete, de Andrew Haigh, foi um desastres de verão. Mais do que nunca, o cinema de qualidade para nichos tem dificuldade em sobreviver. Só há público se os filmes forem lançados num determinado contexto, com determinado “hype”.

Depois, pela calada, há golpes de mercado, como o lançamento de Nada a Perder, de Alexandre Avancini, sobre o fundador da Igreja Universal Reino de Deus, que atraiu de repente milhares de “fiéis”.

Uma coisa é certa, não me faz comichão nenhuma os números estrondosos de Missão Impossível: Fall Out, sobretudo porque tenho para mim que é o mais exuberante e conseguido “blockbuster” desta temporada. Christopher McQuarrie assina a sua obra-prima e prova de uma vez por todas que é possível produzir em Hollywood espetáculos de ação com surpresa, “pathos” e elegância. Também celebro o domínio da Pixar, que com Incredibles 2- Os Super-Heróis, grande filme sobre super-heróis, bate uma concorrência que se limita a fazer mais do mesmo.

Importa também recordar que este foi o verão onde os festivais de cinema esgotaram sessões. O Curta de Vila do Conde, o FEST, em Espinho e o Periferias, no Marvão, encontraram público. É preciso não esquecer que além dos festivais, há a febre do cinema ao ar livre, cada vez mais na moda.

Era bom que o pessimismo sobre “as pessoas a desaparecer das salas” fosse amenizado. O maior problema está agora em tentar encontrar uma forma de ultrapassar o mais grave dos traumas: o cinema português. Estamos de novo numa altura em que os portugueses fogem a sete pés dos seu cinema. A tragédia está na nega que o cinema mais comercial está a ter. Se uma história tão bem contada como Ruth, de António Pinhão Botelho, foi um flop , se as estrelas de Linhas de Sangue, de Pureza e Graciano, não conseguem chamar público e se o bem interessante Leviano, de Justin Amorin, é ignorado, o que há a fazer? Resta ter esperança em Variações, de João Maia, que em 2019 pode ser o D. Sebastião do cinema português nesta fase…