Durante uma visita relâmpago ao Festival de Roterdão,  3 filmes estremeceram comigo:

 

Ar Condicionado, de Fradique

Em Luanda, um porteiro assiste a um estranho fenómeno: os aparelhos de ar condicionado começam a cair dos prédios. Revolta? Conspiração? Bem, neste realismo mágico trazido pelo coletivo Geralão 80, nada é bem o que parece…

Fradique filma sempre a cidade e o espaço urbano como possibilidade de moca transcendental. Faz dos “slowmotions” um “statement” de “pedra”. Um esteta que compreende uma dolência de uma cidade que tem cinema em cada esquina.

Imensa descoberta que inicia talvez um novo capítulo no cinema moderno africano.

Mosquito, de João Nuno Pinto

A história de um rapaz perdido na guerra. Parece coisa de conto mas João Nuno Pinto filma as memórias do avô a perder-se na Moçambique de 1917 com um principio anti-cliché de filme de guerra. É antes um “state of mind”, um afrontamento que também nos confronta com um colonialismo besta português.

Nem tudo é perfeito no filme, as duas horas poderiam ser reduzidas mas tudo se esquece quando o estado febril passa para cá. Cinema com sofreguidão e em modo de transe. Sem querer, está aqui o contraponto ao inflamado 1917, de Sam Mendes.

Desterro, de Maria Clara Escobar

Uma mulher que não volta. Entre o Brasil e a Argentina cumpre-se um itinerário de dor e de luto, mas pode haver sempre a música como forma de sarar esse mal-estar, nem que seja a música do Trio Odemira.

Esta coprodução luso-brasileira é emoldurada com raiva e magia, sempre com dispositivos novos prontos a deixar-nos à toa. Foi dos filmes mais aplaudidos em Roterdão e mostrou-nos como Maria Clara Escobar pode ser ser uma cineasta experimental sem tiques de experimentalismos armados ao pingarelho. Está aqui uma segurança de estilo tão forte como por exemplo a de Felipe Bragança em Um Animal Amarelo, o outro filme brasileiro a partir a louça no festival.