A Revolução Francesa com sangue e canto
Estreia-se esta semana o novo de Pierre Schoeller, obra de coro sobre a Revolução Francesa. Chama-se Uma Nação, Um Rei e o DN esteve à conversa com o cineasta na China, quando o filme foi apresentado no Festival de Pingyao.
Rui Pedro Tendinha, em Pingyao, China
“Filmar a Revolução Francesa não é coisa tabu, mas sim muito difícil pois trata-se de um período histórico rico e fundamental. Ao mesmo tempo, é impossível ser resumido. Tem muitos protagonistas e carrega consigo muitas questões”, começa-nos por dizer Pierre Schoeller, o cineasta que teve coragem de fazer um fresco histórico sobre a Revolução Francesa, Uma Nação, Um Rei, em estreia esta semana nas nossas salas.
Um filme que tenta fundir histórias de 1789 a partir da criação da Assembleia Nacional, pegando em pedaços de histórias do protagonistas do povo e outras figuras conhecidas, com destaque óbvio para Robespierre e para o Rei Luís XVI. Trata-se de um espetáculo assumido com vontade de contar histórias e, simultaneamente, ter algum condão pedagógico. Pierre Schoeller preocupa-se também em criar uma ideia de encenação coreografada, colocando marcos iconográficos como possíveis gestos de pintura. Em Uma Nação, Um Rei, a forma como se filma a queda da Bastilha pressupõe um certo desejo operático.
Para o realizador tratou-se de uma primazia construir o filme de uma forma coral, muitas personagens e também um balanço através do canto: “pus pessoas a cantar porque naquela época as pessoas tinham a cultura do canto. Ontem conheci o distribuidor chinês do filme que me disse que essa parte do canto não era problema e que até fazia lembrar o cinema indiano…Mas o canto em Uma Nação, Um Rei é algo de espontâneo, por isso foi captado em direto, em pleno plateau, sem ajustes musicais, bem à cappella.
Numa altura em que a palavra revolta parece estar cada vez mais em voga na sociedade francesa, um filme como este pode querer ter uma foice de gesto político. As imagens que aqui se celebram, violência para a liberdade, não deixam de nos incitar a uma reflexão sobre uma certa essência francesa. Filmar hoje esta Revolução é também dialogar com os tempos do presente, por muito que às vezes o filme pareça ter estampado o caderno de encargos didáctico.
“O ideário revolucionário é forte, não é uma coisa apenas francesa. O que é forte neste filme é perceber como é poderoso o pedido dos nossos direitos como cidadãos. É um pedido que mudou para sempre a sociedade! Esta Revolução Francesa claro que teve uma imensa dimensão internacional e mudou toda a História política da Europa, embora considere que o importante legado não deixe de ser frágil. Estes homens e mulheres fizeram a revolução para a geração futura e sabiam também que iria soltar-se para outros países”, lembra o realizador, alguém capaz de realizar um filme de arte e ensaio como Versailles (2008, inédito entre nós) e depois apostar numa escala de épico como este, onde alguns dos maiores nomes franceses contracenam, entre os quais Gaspard Uliel, Adèle Haenel, Laurent Lafite e Louis Garrel.
Para Schoeller, a morte do Rei Luís XVI é um símbolo forte de um fim de uma dinastia: “filmei-a como algo cuja dimensão ultrapassasse a dimensão política. Quis ter a dimensão humana. Trata-se do último rei de França e o último de mil anos de realeza…A sua morte muda o século e a Revolução Francesa foi um evento de civilização. Enfim, mudou tudo”.
Em França, Un Peuple et Son Roi não foi um fracasso mas também não entrou para os tops dos mais vistos. Dir-se-ia que é um filme algo aos repelões mas com um charme de encenação teatral nada de se deitar fora…