“Obviamente, o senhor nunca foi uma rapariga de 13 anos”, ouvia-se em Virgens Suicidas, de Sofia Coppola. Aqui, a girafinha do título é uma rapariga de 10 anos, uma lisboeta que tenta resolver a sua existência triste de órfã de mãe e com sufoco financeiro através de uma aventura para ganhar dinheiro com o seu amigo imaginário, um urso viciado em palavrões. Obviamente, Tiago Rodrigues nunca esteve na cabeça de uma pequena rapariga, mas esta adaptação enxuta e extremamente divertida da sua peça não peca por qualquer tipo de vício de narração masculina. Há precisamente um acerto no tom da discrição de um imaginário infantil, neste caso com uns pózinhos de fábula social.

O trabalho de Tiago Guedes na “mise-en-scéne” rege-se por uma simplicidade que não pode ser confundida com simplismo e é sempre competente em encontrar um humor com coração. Depois, temos as canções de Manuel Cruz, bússola mágica para um filme que está cheio de grandes ideias de guião. Belo exemplo de um cinema português autoral mas sem vergonha de assumir uma vocação comercial…