Locked Down, de Doug Liman, com Anne Hathaway

 

 

Eis um argumentista que é especialista em “concept-movies”, o britânico Steven Knight, homem que assinou coisas como Locke ou Estranhos de Passagem. Aqui a servir um cineasta que muda de filme para filme, o americano Doug Liman, neste caso apenas com quase um décor (o epílogo é um outro décor, os armazéns Harrods), a casa de um casal a separar-se em pleno “lockdown” londrino. A fórmula é a de comédia dramática com pózinhos de filme-de-golpe e tudo se passa com a possibilidade de uma troca de um diamante prestes a sair do Harrods para Nova Iorque.

Liman filma com agilidade um argumento que se socorre de videochamadas, de observações sobre a paranóia do Covid (as palmas ao serviço nacional de sáude, o gozo às pessoas que compram papel higiénico em catadupa ou a moda de se fazer pão em casa) e de stress romântico nestes tempos.

A dada altura, tem a pedalada de um filme livre de Steven Soderbergh, mas há demasiadas pontas soltas que são apenas “silly” e não carregam consigo o “leitmotiv” do filme: um jogo de voyeurismo e impotência, situação limite de um espetador confinado nestes dias. Nessa correlação, o melhor está no compromisso de energia dos atores, em especial uma Anne Hathaway melhor do que nos últimos tempos.

Apesar de toda a sofisticação, como “heist movie”, Locked Down é pouco intenso e exibe em demasia o seu sorriso. Seja como for, é raro vermos uma relação em canto de cisne filmada com um desencanto tão “casual”. Talvez por isso, Locked Down deixe-nos realmente colados ao sofá.

Em breve na HBO Portugal