Pela primeira vez, um blog nacional tem acesso exclusivo a uma das maiores estrelas de Hollywood. Rui Pedro Tendinha foi até Berlim e ficou KO com o discurso articulado da estrela de Bumblebee, e ficou também a perceber que John Cena é um tipo porreiro, muito porreiro.
Em Portugal talvez seja difícil perceber o sucesso na América de uma figura como John Cena, um calmeirão de sorriso fácil. Ao vivo, Cena é das estrelas mais acessíveis que podemos imaginar, mesmo com quando o seu aperto de mão possa apresentar uma firmeza perigosa. Vedeta da WWE (a Liga de wrestling) , há quem considere que Cena está encaminhado para seguir as pisadas de Dwayne Johnson, também revelado no mundo do wrestling.
A verdade é que Cena não tem muito boas recordações do cinema de ação e é na comédia que está a ter boa saída, como foi o caso de Descarrilada, de Judd Apatow ou mais recentemente Os Empatas, comédia picante sobre adolescentes e as suas primeiras experiências sexuais. E na Soho House foi divertido para o Cintendinha.pt, mesmo quando se percebia que não estava propriamente à vontade vestido de fatinho e gravata, o oposto do seu visual de militar “kick-ass” que apresenta em Bumblebee, de Travis Knight, o spin-off de Transformers, a estrear na temporada das festas no mundo inteiro.
Sentes que estás a ficar melhor ator, sentes que está evoluir?
Se não estivesse, seria o gajo com mais sorte do mundo. Faço sempre o mesmo paralelismo com os meus primeiros tempos como wrestler. Foi em 2000 que comecei e lembro-me da minha primeira vez no ringue. Senti que nunca na vida iria querer afastar-me de tudo aquilo e ao ver todo aquele público nem queria acreditar – cheguei até a sugerir oferecer dinheiro a todos os que ficaram lá a ver-me, estava tão agradecido! Com o passar do tempo, fiquei mais confortável com a pressão e a querer tomar mais riscos. Alguns desses riscos passaram por experimentar o cinema. Fiz dois filmes de ação que não resultaram e quis logo fazer uma pausa. Voltei à minha paixão inicial. Só em 2011 é que voltei ao cinema e aí achei tudo bem mais divertido. Percebi que no cinema deveria depositar as minhas habilidades que aprendi no wrestling, onde somos também contadores de histórias. O truque no cinema é aplicar o nosso storytelling de uma outra forma. A partir daí, encarei cada filme de forma diferente, passo a passo, mas estou bem mais seguro. Sou um tipo muito metódico e a dada altura percebi que não podia ficar bom ator logo, sinto que é um processo que leva tempo, tipo dez anos. Treino muito, quero ser bom ator. Não vou parar e quero criar histórias para o cinema. Com tudo isto, não estou a dizer que não tive sorte…Estou muito entusiasmado com aquilo que ainda possa vir a aprender, apesar de já não me sentir deslocado. No começo, a minha atitude era “será que deveria estar aqui?!”
Tens a noção de que o seu herói militar seria bem diferente num filme do franchise Transformers? Aqui, neste spin-of, a sensibilidade, é outra…
Sim, percebo-te! Porém, certas pessoas dizem-me que esperavam que a personagem fosse mais de comédia…às vezes, piadas a toda hora não é necessário. Bumblebee é sobre uma relação entre uma rapariga e um robô e é complicado criar afeto por um robô digital…Já sabia desde o início que a minha personagem não iria ser a grande humorista do filme. Vejo este militar como o maior adversário do Bumblebee.
Mas à medida que o filme avança a tua personagem cresce. Pensas que poderá ser uma boa ideia uma sequela onde ele pudesse regressar?
Claro que sim! Antes de mais, era sinal de que iria voltar a trabalhar. Este Bumblebee é uma história muito bem contada, diria mesmo que é perfeito! O Travis Knight é um realizador muito bom e comunicou comigo de forma exemplar. Trata-se de um cineasta que sabia muito bem o que queria. Se a cena ainda não estava bem, fazia-se mais um “takes”. Sem problemas…Lá está, talvez pudesse haver mais comédia, mas eu deixaria o filme como está, não tocava em nada. Estou de deveras entusiasmado com o filme, só vi anteontem. Adoro estar aqui a promover esta obra. Penso que é um excelente filme para este período natalício, mesmo aqui para o povo da Europa.
Há pouco disseste que não te correram bem os filmes de ação que fez. Julgas que agora já poderias estar preparado?
Sabes, há muitíssimo bom cinema de ação por aí a ser feito. Apenas digo isto: aqueles filmes do passado eu não os fiz com paixão! Qualquer um desses dois filmes poderia ser sensacional, a culpa de não o serem é minha, por completo! A culpa é minha! Investi muito pouco nesses papéis. Só aceitei esses filmes porque estava convencido que poderia ser um bom modelo de negócio. Pensei que era bom para uma estrela da WWE poder ser estrela de cinema para depois vender mais bilhetes na WWE. Homem, fiz esses filmes mas com a cabeça na arena, aí é que eu queria estar. Estava com a minha motivação equivocada.
Mas agora…
Eu agora quis mudar a minha percepção. Fiz o The Wall- O Muro, filme sério, e a comédia Os Empatas e fui também a voz de Ferdinando, uma fita para os putos. Não vou atrás do género, mas sim da história. Três argumentos que me conquistaram por completo! Se estiveres focado assim em vez de estares num plateau de cinema a pensar no universo de WWE, tudo muda e ficas um ator com muito maior investimento emocional. A minha esperança é que as pessoas ao verem estes filmes também ponham lá algum investimento emocional. No WWE sobrevivi porque as pessoas estavam a favor ou contra mim, isso é necessário sempre. Temos de ter uma conexão com o público, é fundamental que criemos um desejo que torçam pela nossa vitória ou para que o oponente nos dê uma grande sova! Estou mesmo muito agradecido por ter tido uma segunda oportunidade no cinema. Na primeira acabei por aprender com os erros. A partir de agora só escolho filmes que goste. Não vale a pena fazer um filme se é para estares sempre a batalhar e se logo no primeiro dia já não estás com muita vontade. O dinheiro para mim nunca vai interferir nas minhas escolhas.
Parece ser um tipo que não se leva muito a sério…
Quem me conhece bem da WWE percebe que gozo muito com a minha imagem. Era comum milhares de pessoas cantarem em coro “O CENA NÃO VALE NADA”. Quem compete na WWE não pode levar nada daquilo demasiado a sério…Venho de uma indústria onde os fãs são muito dedicados e extremamente fanáticos e tive de aprender a não me levar a sério. O que é irónico é que tive sempre mais sucesso quando arrisquei. Foram tantas as vezes que ouvi: “puto, não vás por aí! Vai ser o teu fim”!! No mundo do wrestling é preciso ter muita fé e paixão. No começo falhava sempre, a toda a hora! A dada altura na minha vida olhei para os fracassos e comecei a aprender com eles. A verdade é que me mantive sempre à tona e tomei todos os riscos! E isto numa indústria que tens de ser o gajo duro, o herói a toda a hora…De alguma forma, humanizei-me e ria-me de mim mesmo quando perdia, envolvendo o público. Às vezes, na WWE todos são tão sérios, mas eu fui contra a maré. Houve uma certa fatia do público que me deu crédito por isso mesmo, ficou curioso para ver até onde poderia ir com isso. Enfim, aprendi imenso e consegui evoluir. No começo, era um lutador muitíssimo sério e queria ser um matulão perigoso, coisa que na verdade não tem nada a ver comigo. Nessa altura, até cheguei a produzir o meu álbum de hip hop. Durante 5 anos o rap fez parte da minha vida!! Isso já era um exercício para não me levar muito a sério.