“É mais comovente alguém a tentar não chorar do que a chorar!”

Damsel/O Herói, o Vilão e a Donzela, de David e Nathan Zellner, nunca estreou nos cinemas portugueses. Este western inédito com pretensões a manos Coen passa dia 9 de abril nos TVCine. Oportunidade para apanhar Mia Wasikowska e Robert Pattinson num registo de humor louco.

Em Berlim, a atriz australiana falou com o Cinetendinha.pt

Mia, o que te fez querer entrar em O Herói, O Vilão e a Donzela? Os realizadores, os manos Zellner, não tinham propriamente um currículo apetecível…

Foi o argumento, gostei muito. Nunca tinha lido nada assim nem feito este tipo de papel. Trata-se de um projeto feito com bravura. Além do mais, achei que era muito cómico! Na verdade, amei este guião!!

 Mia, és conhecida por seres uma atriz que é atraída para personagens algo excêntricas…

São as que mais gosto! Divirto-me imenso a representar este tipo de mulheres. Uma atriz quer sempre representar aqueles papéis que nos permitem ir mais longe e fazer coisas que nunca fazemos no dia-a-dia. Agora, em frente aos jornalistas em Berlim, era incapaz de fazer uma loucura como a Penelope de O Herói, O Vilão e a Donzela…

E de onde foste buscar toda aquela carga desta “cowgirl”? Há uma raiva que se torna mesmo contagiante…

Cada vez que leio um guião parece-me tudo óbvio sobre a minha personagem, como se apenas eu conseguisse perceber a sua essência – creio que isso se passa com todos os atores. Acontece-me sempre o mesmo: leio o guião e fico realmente por dentro da personagem. Quando vou representá-la nem penso muito. Passa muito pelo o instinto.

Mas no plateau sente algum tipo de alavanca que a faz mudar o seu estado de espírito?

Nem por isso…Neste caso, estava tudo na escrita dos Zellner…Ela foi muito bem escrita, uma personagem cheia de força e energia. Tudo o que tive de fazer foi decorar o texto, dormir bem e aparecer nas filmagens!

Vieste da dança clássica e por isso pergunto: no teu acting ainda está lá algo da bailarina?

O ballet deu-me uma grande base, foi uma imensa ajuda, sobretudo porque me fez conhecer muito bem o meu corpo. Fez-me perceber a relação com os músculos e tudo o resto…E isso ajuda muito nas emoções. Uma bailarina não é muito diferente de uma atriz…Ambas têm de se expressar através do corpo.

Ouço falar que uma bailarina tem de trabalhar muito com a sua imagem no espelho, enquanto que para um ator um espelho pode ser eventualmente uma armadilha…

Sim, quando era bailarina, durante os exercícios, era confrontada muitas horas com o espelho. Mas o espelho, sim, pode ser um padrão de consciência exterior. Sou uma atriz que prefere a ajuda interna, mas creio que não penso muito nisso. Sei que é possível dizer-se muito sem o texto. O que mais odeio no cinema é toda essa coisa da exposição, como por exemplo sublinhar alto alguns dos atos que vamos cometer. Aí é impossível representar bem! Acho também mais comovente alguém a tentar não chorar do que a chorar mesmo! E há atores peritos em dar o menos possível. Essas são as interpretações que nos fazem querer saber mais das personagens. O Hitchcock era mestre nisso, fazia com que a nossa imaginação fosse muito pior do que aquilo que vemos. Nos atores prefiro sempre quando a ideia é controlar, mostrar menos.

Apanhaste um Robert Pattinson diferente do de Map of The Stars, do Cronenberg?

Já nos conhecemos há muito tempo e passámos um bom momento na rodagem do Cronenberg. É muito fixe voltar a encontrar numa rodagem alguém com quem já tivemos uma relação. Foi muito divertido.