Galã, mas acima de tudo um “porreiro”.

Algo pachorrento, totalmente dado. Foi assim que encontrei o grande Ryan Gosling no seu país natal, o Canadá. Foi em 2007 no Festival de Toronto e estava o moço a promover Lars e o Verdadeiro Amor, uma comédia dramática onde faz de uma espécie de falhado que se apaixona por uma boneca insuflável.

Sem ares de estrela e com um discurso tão articulado como inteligente, percebeu-se que este canadiano não estava interessado na fama rápida. Um ator dos atores, como se diz em Hollywood. Este meu encontro numa altura em que já tinha sido nomeado para o Óscar em Half Nelson mas ainda algo longe da ribalta de obras como La La Land, O Primeiro Homem na Lua ou Drive- Risco Duplo, foi também a oportunidade de perceber como um ator de primeiro nível em Hollywood consegue destilar humildade. Segredo? Não a anunciando ou promovendo-a.

Sete anos mais tarde, em Cannes, apanhei-o a andar sozinho na Croisette. Ele percebia que era reconhecido pelas pessoas mas o seu passo largo evitava abordagens para selfies ou autógrafos. Mesmo aí não era altivo. Nessa mesma noite, numa sessão do Un Certain Regard, viu-o a apresentar  muito nervoso O Rio Perdido, a sua primeira realização. É um daqueles filmes malditos que nunca me saiu da cabeça. Em 2018, num encontro para a imprensa para a promoção de O Primeiro Homem na Lua, voltei a perguntar-lhe sobre a sua vocação de cineasta e confidenciou-me que vai voltar. Uma confissão com um sorriso nada cínico. Aliás, gosto de Ryan Gosling pois de cínico não tem nada. É um bom rapaz que ao longo dos anos ficou menos pachorrento e muito confortável na pele de galã. Creio que é cada vez mais raro os chamados “leading men” terem capacidade para serem também artistas. Gosling pertence àquele clube restrito onde também estão George Clooney, Edward Norton ou Denzel Washington. É mesmo dos grandes! Ainda por cima com carisma de porreiraço.