Um tipo que gosta de abraçar

Já entrevistei John Travolta várias vezes. Comecei a conhecer bem os contornos do seu implante capilar ao longo dos anos. A estrela de Grease e de Pulp Fiction foi sempre alguém que exerceu em mim um fascínio genuíno. Um fascínio daqueles que não se explica, talvez porque cresci com a sua imagem de verdadeira grande estrela de Hollywood. Um ator que na minha infância simbolizava um imaginário de sonho americano.
E Travolta, goste-se ou não, sempre esteve no topo da cadeia de Hollywood. O meu primeiro contacto foi com Grease/Brilhantina, de Randall Kleiser, objeto que teimosamente sempre resistiu ao tempo.
Em Cannes, este ano, num encontro para um pequeno grupo de jornalistas europeus, trauteava-me a  melodia da balada que cantava em Grease com Olivia Newton John. É alguém que não tem medo de ser autêntico (podemos pensar que é coisa rara em Hollywood mas não é bem assim).

No final desse encontro, à boa maneira da Cientologia, despediu-se com um valente abraço. Isso sim, é raro: estrelas de Hollywood que gostam de tocar nos jornalistas.
Claro que nem tudo o que tem feito como ator é louvável, antes pelo contrário. O seu grau de cabotinice ultrapassa todos os limites em Gotti- O Verdadeiro Padrinho Americano, de Kevin Williamson. O filme era fraquinho mas a tentativa de Travolta fazer expressões graves não convence nem um cego. Pior era ainda o seu ar de mauzão em Killing Season- Temporada de Caça, de Mark Steven Johnson, onde dava vida a um militar sérvio de sotaque bera a tentar matar o pobre do Robert De Niro. Por essas e por outras, faça-se macumba e descubram um novo filme forte para um segundo comeback.

O primeiro foi com o maravilhoso Pulp Fiction, de Tarantino. O seu Vincent tornou-se imortal e ainda hoje é usado como meme na net (nesta última conversa que tive com ele, confessou-me que é “na boa” isso de ser cromo de giffs). Tive a oportunidade de estar com Travolta numa ação de promoção da sequela de  Get Shorty, de Barry Sonnenfeld, o não tão bom Jogos Mais Perigosos, de F. Gary Gray, filme que ainda aproveitava esse seu renovado estado de graça. Devo confessar que o apanhei em excelente forma: feliz, sorridente e com respostas sorridentes.

Outra das particularidades de Travolta ao vivo é a forma como olha olhos nos olhos. Gosto disso. Quando em 2007 estive a entrevistá-lo nesse esquecível Porcos e Selvagens, de Walt Becker, o seu “thank you so much, Rui” entrou em divertido duelo com o meu “thank you, John”. “No, thank YOU, Rui”, ganhou ele.

Mas, para mim, o Travolta com carisma de movie star é o de Blow Up, do Brian De Palma. Impossível também não admitir que o seu número de “over the top” resulta que nem ginjas em Face/Off, de John Woo. Impossível! E teremos sempre de fazer mil vénias ao seu talento de coolness em Operação Flecha Quebrada, do mesmo John Woo…

Gosto do John, ponto final.