Não sorrir muito e ser muito simpático. Não é para todos, mas Colin Farrell consegue esse feito. Este irlandês de olhar intenso tem ao vivo uma suavidade que é raro passar no grande ecrã. Foram já diversas as vezes que pude entrevistá-lo. Em todas elas a mesma pose descontraída e uma não afectação de estrela. Tal como acontece com a maioria dos irlandeses, sobra em Colin uma honestidade natural, naturalíssima…

A maior impressão de todas as conversas em festivais é toda uma simplicidade do seu próprio registo, ou seja, um ator que não fala de truques de ator. Colin é mais um tipo porreiro com quem se   pode ir beber um copo, alguém que não fica a falar do Método nem das façanhas que traz do plateau. Aliás, em pleno Festival do Dubai, lembro-me de estar a divertir-se ao lado de sheiks, jornalistas e outros atores numa festa de bar aberto. Ao contrário de outros atores, preferiu circular à vontade do que meter-se nas habituais áreas vip.

O seu sotaque cerrado irlandês fica-lhe bem ao responder sem filtros a todo o tipo de questões. Numa das conversas que tive com ele, estava a promover em 2009 Ondine, filme menor do compatriota Neil Jordan, e mesmo com respostas curtas era voluntarioso no que dizia. Estávamos num hotel chique de Toronto e a entrevista era a meias com o realizador. Era muito curioso perceber que olhava para Neil com veneração.

Anos mais tarde, num terraço de uma discoteca de Cannes, apanhei-o bem disposto a falar de A Lagosta e aí lembro-me da sua paciência de santo face a uma certa desorganização das entrevistas. Colin esperava com tranquilidade mesmo quando a operadora não acertava na colocação da câmara. A entrevista foi curta e com ritmo, tudo o que se pede no alvoroço do maior festival do mundo. Fui, sem exagero, o seu último entrevistador de uma manhã sempre a abrir. E é nessas maratonas que se descobre o bom feitio de uma estrela de cinema.

A outra memória que tenho dele foi em Veneza, no Lido, na altura das entrevistas de Cassandra’s Dream. Colin Farrell não se cansou de endeusar Woody Allen e num final deu-me um abraço forte ao som de um vigoroso “Thank you so much, man”!. Um agradecimento de um irlandês que é tudo menos fanfarrão.