Conversa em Londres com dois dos atores do musical O Regresso de Mary Poppins, de Rob Marshall. Os dois irmãos da casa londrina receberam o Cinetendinha e falam sobre o filme que está agora nos TVCine.
Quem viu o original com Julie Andrews e agora esteja disposto a ver este como é que pode ficar tranquilo para não ter medo da sua recordação de infância ser estragada?
O que é sensacional neste filme é ser realmente uma sequela, uma espécie de continuação da vida da família do original. Mesmo adultos, estes dois irmãos precisam mais do que nunca da Mary Poppins, especialmente após a vida ter-lhes dado alguns golpes! São pessoas que cresceram com dor e confusão. Este regresso dela é para lhes dar novas lições e reforçar o que lhes ensinou na infância, que é basicamente soltarmo-nos na nossa infância, isto é, ver o mundo com outros olhos…Ao crescermos perdemos esse olhar…Essa é uma das grandes tragédias da passagem à idade adulta. Esta sequela é um desenvolvimento orgânico e belo do que foi deixado pelo clássico. E o primeiro filme, não esquecer, era muito amado pelo mundo inteiro, mas sobretudo pelo Rob Marshall. A sua paixão por esse título era tão grande como a do Ben Whishaw! Creio que foi o primeiro filme que viu na vida! A geração de quem fez este sequela cresceu com o impacto de Mary Poppins. O compositor Mark Shaiman viu o filme aos 4 anos e desde aí nunca perdeu essa obsessão. Ele descreve de forma fantástica a maneira como aquelas canções entraram na sua cabeça de menino. Enfim, O Regresso de Mary Poppins foi feito por pessoas cujo primeiro filme faz parte do seu ADN. Era inevitável que fosse uma carta de amor ao original. Por muito que pudessem existir ratoeiras, o nosso filme era infalível: foi feito com amor.
Ben Whishaw- Nem queria acreditar quando recebi a proposta para este filme. Sou obcecado por Mary Poppins desde criança. Uma obsessão que diria louca! Mas fiquei com um pé atrás: seria possível fazer um filme que não defraudasse a nossa memória? Mas muito rapidamente, logo após os ensaios, deixei de ter esse pensamento. A delícia de estar a fazer este filme venceu os nervos e a trepidação! Era necessário encontrar esse encantamento no nosso trabalho. Encantamento e inocência…
Mas este filme fez-lhes reacender a criança que ainda há em vocês?
E.M.- Quem me dera…O filme fez-me lembrar da minha infância mas nós esquecemos as nossas infâncias tão depressa! Esse é o problema e aqui até há uma frase sobre isso. É muito complicado agarrarmo-nos às nossas memórias infantis, é por isso que Mary Poppins marca tanto!
B.W.- Estou muito feliz por estar neste filme mas era bom que a minha infância pudesse ter reacendido…Tive um prazer do caraças em fazer esta produção mas o maior prazer é agora mostrá-lo ao meu afilhado e às minha sobrinhas. Espero que tenham uma experiência parecida àquela que tive quando em menino vi o Mary Poppins.
E.M.- Durante a estreia tive um público difícil: a minha família e deixou-me muito feliz por eles terem adorado. Nunca antes tinha visto a minha mãe tão arrebatada! Senti que foram realmente transportados e isso hoje é tão difícil, sobretudo quando as pessoas são tão cínicas. Nunca estive ligada a um filme com este tipo de efeito.
Mas A Livraria, de Isabel Coixet, também era um crowdpleaser….
E.M.-Pois era, mas não tão alegre…E como é que os atores reagiram à chegada da lenda Dick Van Dyke?
E.M.- Bem, ele chegou num dia e parecia que estava escondido de nós. Todos os atores já estávamos algo habituados à presença uns dos outros pois antes das filmagens tínhamos estado a ensaiar. A equipa funcionava como uma família, à exceção dele. Dick nunca ensaiou e apenas falou em Los Angeles com o realizador. Lembro-me de estar ao lado dele na maquilhagem e perceber que aquilo não era real!! O Dick chegou já vestido de banqueiro e já era realmente o velho senhor do banco! Claro que me contou histórias do Walt Disney e das experiências no filme original. Pelo que percebi, o filme original foi feito muito segundo o espírito de Walt. Foi muito bonito ouvir tudo isso.
B.W.- Se calhar estou a contar mal, mas a ideia que tenho é que ele entrou logo em cena e nem deu para falar com ele sem estar na personagem! Entrou no plateau, disse algumas linhas de diálogo e desatou a cantar e a dançar! Dois “takes” e já estava!!
E.M.- Foi como que uma masterclasse de como dançar e cantar! Foi de uma perfeição constante e comoveu muito o Rob Marhsall. Supostamente, no fim, nem conseguiu gritar o “corta!”.